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PENSANDO A SEXUALIDADE FEMININA.

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A sexualidade feminina foi por muito tempo negligenciada e tida como algo de menor importância, pois junto com isso vinham os conceitos culturais e morais de épocas anteriores. A mulher era tida como propriedade do homem e assim era vista a partir da perspectiva masculina. As compreensões do masculino se davam a partir de suas necessidades de satisfação sem chegarem a verificarem como se daria com suas companheiras. Desta forma a mulher foi sendo criada entendendo que ela não seria uma participante ativa na sexualidade e que para se incluir na sociedade vigente deveria saber como lidar com as imagens do que representava uma boa mulher ou não. Desta forma se construíram uma moral, alguns conceitos de que, somente aos homens seria permitido experimentar a sexualidade, de forma mais plena e as mulheres que não eram valorizadas pela sociedade, ficando desta forma, subentendido que para ser uma mulher de respeito a sua sexualidade deveria ficar reprimida. A partir deste contexto que perdurou por muito tempo, a mulher acabou por criar dificultadores para vivenciar sua sexualidade que se mostram até hoje.

MARTINS (2006) nos coloca que a moral possui o significado de ser o comportamento adquirido ou modo de ser aprendido pelo homem na convivência social e que a Ética  não corresponde ao comportamento em si, mas a sua essência, onde se quer determinar além da essência da própria moral, a sua origem , as condições objetivas e subjetivas do ato moral, as suas fontes de avaliação, o que resulta na tendência clássica da Filosofia de instituir a Ética como a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Estes conceitos são os que atravessam tanto a experiência sexual como o próprio trabalho de profissionais que se dedicam a ajudar quem possui alguma dificuldade nesta área.

KUSNETZOFF (1988) nos coloca que em quase todos os problemas femininos se vê a surpreendente ignorância dos parceiros e, muitas vezes, dos profissionais. Denunciando desta forma como as compreensões sobre sexualidade feminina ainda está com contornos de preconceitos relacionado a uma história onde pouco lugar as mulheres ocupavam. A própria mulher necessita passar por um processo onde ela mesma quebre com seus preconceitos incutidos por gerações. São estes preconceitos muitas vezes que a prejudicam na satisfação de sua vida sexual.

O sujeito, para MARTINS (2006) está em luta intensa com a sua própria moralidade e tem sido estudado através de duas grandes dimensões sintomatológicas humanas: a culpa e a vergonha. E ele acrescenta que o conflito entre os desejos e autoexigências das pessoas se inclui também, sendo que as moções pulsionais de desejos sendo fortes, o sujeito pode pensar que é possuído por impulsões bestiais. Estes desejos se sofrem uma transformação em falta de moral, em auto reprovações, originaram o caminho descoberto por Freud para explicar o conflito estabelecido entre este sujeito desejante e a moralidade que o apavora. Sendo que assim Freud mostrou que o resultado deste conflito é o sintoma, solução “criativa”, mas também mutiladora do próprio sujeito. Ficando claro para qualquer profissional que trabalhe com sexualidade a complexidade do assunto e o quanto de questões culturais interferem na sexualidade feminina.

FLEURY e ADBO (2012) nos dizem sobre a evolução da pesquisa em sexologia abordando amplamente o complexo biopsicosociocultural da função sexual humana onde se disponibiliza um contingente sem precedentes de informações que possibilitam a construção de modelos de abordagem das disfunções sexuais de complexidade variável, adequáveis aos programas de assistência individual e populacional. Complementam nos trazendo que o modelo Permission, Limited Information, Specific Suggestions, Intensive Therapy (PLISSIT) que consegue ilustrar o fato de que uma parcela expressiva dos problemas sexuais pode receber uma abordagem menos complexa e dispensa a terapia sexual intensiva. Colocando que isso ocorre porque muitas queixas sexuais são relativas à inadequação sexual e não à disfunção sexual. Sendo possível desenvolver uma postura de ajuda que possa facilitar as intervenções por tornarem elas menos problemáticas e, quem sabe, as dificuldades serem compreendidas mais como uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento.

Mas Cavalcanti e Cavalcanti (2006, Apud Paula, 2010) insistem na afirmativa de que a disfunção sexual é um “bloqueio” total ou parcial da resposta psicofisiológica. E a terapia sexual para Moreno (2001, Apud Paula, 2010) seria um exercício essencialmente pedagógico, na medida que é um aprendizado no desbloqueio, sendo a inibição do desejo a disfunção sexual que mais tem levado mulheres e casais a buscarem tratamento em consultórios de psicoterapia sexual.

Seja compreendido como inadequação ou mesmo um bloqueio que configurasse uma disfunção, Paula (2010) diz que, aumenta-se assim a consciência feminina a respeito de si e ela pode sentir vergonha, confusão e deprimir-se de qualquer forma. Acolher como a mulher está experienciando a situação é imprescindível para a busca de soluções. Master e Johnson (1988, Apud Paula 2010) colocam as últimas duas décadas como responsáveis por descontruir os conceitos cristalizados sobre a sexualidade feminina dando lugar a uma aceitação das necessidades sexuais das mulheres como legítimas. Criando-se assim uma perspectiva mais positiva na compreensão da sexualidade.

Visto todos estes aspectos sobre a sexualidade feminina consegue-se compreender o tamanho da complexidade deste assunto e o quanto de cultural ele possui. Sendo necessário o trabalho inicial do próprio profissional que atende estas questões estar atualizado e oferecer um atendimento facilitador e não correr o risco de criar mais dificuldades. A sexualidade feminina felizmente vem sofrendo mudanças positivas no aprofundamento também da compreensão de equidade, que se entende por uma justiça natural, uma disposição para reconhecer imparcialmente o direito de cada um. O que, num primeiro momento, se compreende com uma problematização importante das mulheres, pode-se a partir do trabalho colaborativo de toda uma sociedade em revisar seus conceitos, trazer uma possibilidade de vivencias com mais plenitude tanto para as próprias mulheres como para os homens que também pertencem a esta mesma sociedade.

Bibliografia:

CURTI, Paula Andréia. “Disfunções sexuais, inibição do desejo sexual feminino e sintomas depressivos”; Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande/MS, 2010.

LARA, Lúcia Alves da Silva; SILVA, Ana Carolina Japur de Sá Rosa; ROMÂO, Adriana Peterson Mariano Salata; JUNQUEIRA, Flavia Raquel Rosa; “Abordagem das disfunções sexuais femininas”; Rev Bras Ginecol Obstet. 2008; 30(6):312-21.

KUSNETZOFF, Juan Carlos. “A mulher sexualmente feliz”. Tradução de Talita Macedo Rodrigues. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.