Na clínica, ouvimos com frequência queixas de homens que se sentem excluídos da relação com a mulher, quando do nascimento de um filho. Muitas vezes são excluídos de fato, inclusive saindo do quarto do casal para dar lugar ao filho. Outras vezes este filho passa a ocupar o meio da cama, separando o casal, situação que pode se prolongar por um, dois anos ou até mais. Isso acontece quando o homem não sabe qual é seu papel nesta relação e a sua importância. O filho, que deveria ser motivo de alegria e união do casal passa a ser motivo de afastamento do mesmo.
O papel do homem e da mulher na sociedade atual tem mudado muito. Há algumas (poucas) décadas os papéis eram bem distintos e definidos: o homem era o provedor e a mulher cuidava da casa e dos filhos. O homem não se envolvia nos cuidados dos filhos, ele atuava quando precisava colocar limites, para impor a lei. A função materna e paterna eram bem definidas, mas não necessariamente mais saudáveis.
Nos tempos atuais, com a necessidade do homem e da mulher trabalharem fora de casa, também surgiu a necessidade da divisão de tarefas: tanto nos cuidados da casa como nos cuidados e educação dos filhos. As funções que anteriormente eram bem definidas se mesclaram. Vemos homens cuidando da casa e dos filhos enquanto a mulher trabalha fora, vemos homens e mulheres se dividindo para dar conta da casa e dos filhos já que ambos trabalham fora. Enfim, os papéis mudaram e muitas vezes se confundem. Ambos podem ser provedores, podem cuidar, dar carinho e educar. Mas nem sempre é fácil para homens que tiveram uma educação mais conservadora, onde pai era o disciplinador e o afeto vinha exclusividade da mãe. Homens que só tiveram uma relação mais próxima com o pai depois de grandes, já enquanto “homens”. Estes não aprenderam e sentem-se, muitas vezes, inibidos afetivamente. Não sabem onde se colocar, o que fazer e o quanto são necessários neste momento.
Antes as famílias eram grandes, as mulheres não trabalhavam e todos se ajudavam. Quando nascia um bebê havia avó, tia, vizinha, muitas pessoas para ajudar nos cuidados da nova família que começava a se estabelecer. O homem/pai era muitas vezes excluído: sua função era de provedor. Nos dias atuais isso já não acontece mais; grandes cidades, grandes distâncias, avós trabalhando fora e dificuldade de ter encontrar pessoas capacitadas faz com que o pai precise ajudar. Mesmo assim, muitas vezes, o homem se sente excluído dessa relação tão íntima que é da mãe e seu bebê. Ele não sabe da importância que tem neste momento.
E qual é esta importância? Logo após o nascimento o papel do pai é proteger mãe e filho, é dar o suporte logístico e emocional necessário para que a mãe se dedique a atender as necessidades desse bebê ainda tão imaturo e indefeso. É o momento em que a mãe se volta integralmente para seu filho. Mãe e bebê constituem uma unidade na chamada fase simbiótica, conforme nos ensina Mahler. Esta fase é fundamental para que o bebê passe para a próxima etapa do seu desenvolvimento emocional.
Nesta nova etapa o papel do pai é, mais uma vez, de suma importância. É ele quem vai ajudar a separar a mãe e o bebê, apresentando este bebê ao mundo e propiciando que a mãe retome sua vida. A ligação dos dois continua intensa, mas não necessita mais de atenção da mãe 24 horas. Já pode dividir os cuidados com o pai e aos poucos o casal vai retomando sua vida.
Com papéis diferentes, mãe e pai são fundamentais no desenvolvimento saudável dos filhos. Basicamente, a mãe é o afeto e o pai é quem impõe as regras, os limites. São como uma equipe, funcionando em sintonia, sabendo, cada um, a sua função e a hora de atuar.
Quando esta equipe não funciona, quando não existe sintonia, é hora de buscar ajuda. A psicoterapia psicanalítica pode ajudar os pais individualmente ou como casal a se encontrar novamente. E isto é importante não só para o casal como também para que consigam cuidar melhor de seus filhos.