Os problemas de aprendizagem são queixas comuns que motivam a busca de auxílio psicológico. Na realização de avaliação psicodiagnóstica é também comum encontrarmos como resultado; uma criança com potencial intelectual adequado ou até superior, mas apresentando baixo rendimento cognitivo.
Será importante compreender como se constrói o conhecimento. Lembrando Piaget , a criança é um sujeito que procura ativamente compreender o mundo que a rodeia. Tentando responder as interrogações provocadas pelos estímulos ambientais; constrói formas de pensar. Através deste conhecimento, também organiza seu psiquismo pois tudo vai ganhando compreensão e significado.
Freud falando sobre a sexualidade infantil, mostra a intensidade da curiosidade das crianças. Elas querem saber suas origens! Destacou então o nascimento dos bebês, as relações sexuais entre os pais, o papel paterno na concepção e as diferenças anatômicas como os temas que mais despertam a curiosidade, geram perguntas e mobilizam pesquisas.
Melanie Klein coloca outros aspectos importantes. Explica que inicialmente a criança divide as coisas e pessoas em boas ou más. Pretende que vença o bom e o mau seja aniquilado; gerando assim sentimentos de satisfação e segurança. Acreditar que o bom vence ameniza angústias e vai fazendo com que a criança perceba que o bom e o mau existem juntos em uma mesma pessoa ou situação. Aquele que gratifica é o mesmo que frustra. Não há mais como conviver somente com o bom; nem no mundo externo ,nem no mundo interno. A fantasia perde sua intensidade, seu caráter onipotente. Não soluciona mais as coisas! A criança precisa tolerar a frustração e isto significa admitir a realidade; significa pensar.
A condição de tolerar a frustração impõe a realidade e gera pensamento. A criança necessita buscar alternativas e recursos, para tornar a vida real a medida do possível, mais prazerosa e satisfatória.
A atividade intelectual normal apresenta como características a espontaneidade, a criatividade e um tanto de fantasia. A exploração e descoberta do mundo, pode ser feita com prazer e tranquilidade ou ser carregada de altos níveis de angústia. Nem sempre ser curioso é algo incentivado e permitido e a reação dos adultos frente à curiosidade infantil é de suprema importância. Poderá acontecer de forma inadequada e incluir mensagens de proibição, censura e negação. A expressão direta ou sutil de mensagens com este teor, pode contaminar todo espaço mental e impedir o pensamento. A criança não suportará o temor frente, as consequências de sua atitude curiosa e abandonará a proposta. Além disto, a ausência de respostas dos adultos frente aos questionamentos ; muitas vezes povoados de angústias , passam a ser sentidos como perigosos, destrutivos ou proibidos. Tudo isto pode participar do bloqueio intelectual: Crianças inteligentes que não conseguem aprender!
A postura do adulto também é inadequada quando na vida da criança, ocorrer exagerada satisfação de desejos e ausência de limites. Se há prazer nada mais precisa ser pensado, nenhum movimento precisa ser realizado para buscá-lo.
Muitas crianças poderão sofrer de uma falta de liberdade ou de necessidade para pensar e refugiam-se na ignorância. Não posso pensar ou não preciso pensar! Se pudermos auxiliá-las a descobrir o que as impede de pensar e a reconquistar o prazer da curiosidade; modificarão sua relação consigo mesmas, com o mundo e com a aprendizagem; permitindo que seus recursos sejam percebidos , desenvolvidos e utilizados.