Muitas vezes, as brigas entre os cônjuges não podem ser evitadas, pois as divergências surgem e com elas as discussões. A maioria dos casais passa por desentendimentos, especialmente os casais juntos há muitos anos. Porém, nas famílias (casais com filhos) as consequências atingem, além do marido e da esposa, os filhos, que tendem a sofrer com as brigas conjugais.
Geralmente, após uma briga, o casal entra em entendimento, faz as pazes, e retoma a sua rotina. Já os filhos podem continuar sofrendo com as consequências da briga, por não ainda ter capacidade emocional suficiente para entender e administrar a discussão ocorrida entre os pais. Dependendo da intensidade da briga, os malefícios da desavença do casal podem seguir atuando por dias no imaginário dos filhos, os fragilizando e assustando.
Se as discussões forem frequentes e/ou intensas, as crianças podem apresentar dificuldades emocionais e ter seu desenvolvimento prejudicado. Várias situações como dificuldades para dormir, terror noturno, bruxismo, agressividade, dificuldade de concentração na escola, tristeza, insônia, alergias de pele, enurese, ecoprese, insegurança, e tantos outros, são comuns a crianças cujos pais enfrentam uma crise conjugal.
As brigas expõem os filhos às situações de descontrole emocional dos pais, que a principio são a fonte de estabilidade e segurança. Presenciando discussões, as crianças ficam desprotegidas e expostas a momentos em que absorvem sensações, palavras e muitos sentimentos que ainda não podem entender ou decifrar.
Obviamente discordar, divergir, ter opiniões diferentes é esperado dentro de qualquer relacionamento. Porém, quando uma divergência torna-se um conflito violento, físico ou emocionalmente, ou até mesmo quando palavras não são ditas, mas a hostilidade entre o casal se faz presente, a criança percebe e sofre.
Até mais ou menos os sete anos, a criança vive muito centrada em si, está ainda muito egocêntricas, e pode interpretar a briga como uma reação a algum comportamento dela. Pode sentir-se culpada e responsável pelo desentendimento dos pais. Já a criança maior tende a tentar ajudar a resolver a situação, busca conciliar aos pais ou procura apoiar o que acha que tem razão, muitas vezes sente se coagida a concordar ou proteger um dos cônjuges. Nessas situações, podem se aliar a um dos pais e sentir-se traindo o outro. Ou seja, os filhos sempre estão envolvidos.
Em casos em que os conflitos conjugais são recorrentes ou muito intensos, a indicação de tratamento pode ser a Psicoterapia Vincular. Nessa modalidade de tratamento, o “paciente” é a relação conjugal. O objetivo é facilitar a comunicação, buscando nas histórias individuais, na convivência conjugal e familiar, no comportamento e no inconsciente os motivos desencadeantes das discussões e todas as questões envolvidas.
Muitas vezes, a busca inicial é de psicoterapia para o filho, pois comumente a criança apresenta os sintomas anteriormente listados e esta situação frequentemente mobiliza a escola ou o pediatra, que sugere a busca por tratamento. Porém a psicoterapia individual do filho não se faz necessária, pois com o tratamento do casal, o manejo adequado e o entendimento das questões conjugais, a criança comumente deixa de apresentar os sintomas. Em algumas situações, as crianças podem ser convidadas a participar da psicoterapia, configurando-se um atendimento familiar.
A psicoterapia vincular se atenta especialmente ao vínculo estabelecido entre os cônjuges ou membros da família. Preconiza uma relação de mais respeito às diferenças e particularidades de cada indivíduo, busca a existência de diálogo e da estabilidade do relacionamento. Independente da decisão de manter ou não o casamento, pois a psicoterapia de casal pode também ajudar no processo de divórcio, buscando minimizar o sofrimento e auxiliar os envolvidos a tomar a decisão de forma mais saudável e menos prejudical aos filhos.