Artigos

DEPENDÊNCIA QUÍMICA E ALCOOLISMO FUNCIONAIS, UM PROBLEMA ATUAL.

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no email
Compartilhar no whatsapp
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no telegram
Compartilhar no print

**esse artigo usara a expressão “dependência química” para se referir a dependentes de substâncias, sejam elas drogas ou álcool. A OMS (Organização Mundial de Saúde) entende como dependência química a relação alterada entre um individuo e o modo de consumo de determinada substância.

A maioria das pessoas conhece alguém que considera alcoolista ou dependente químico. O conceito dessas psicopatologias está bastante difundido, e todos tem conhecimento, em algum grau. Comumente, se associa essas doenças a pessoas com sérios problemas na funcionalidade da vida: são os típicos fanfarrões, que vivem na noite e “caem” de bêbados, não tem uma carreira profissional, seus relacionamentos são sempre conflituosos, brigam e estão sempre envolvidos em confusão… enfim, o dependente químico frequentemente é associado a alguém sem nenhum sucesso afetivo ou profissional. Para esses, o diagnostico é fácil.

Porém, existe hoje um novo modelo de dependente químico. São aquelas pessoas que usam essas substâncias sem aparentemente prejudicar seu desempenho profissional ou relacionamentos. Essa situação é cada dia mais comum, e preocupante. Observa-se muitos motoristas profissionais que fazem uso de mais de um tipo de substâncias para melhorar seu “desempenho no trabalho”: dirigir por mais horas seguidas, sem dormir ou parar para descansar, por exemplo. Nos hospitais e ambulatórios o numero de usuários de substâncias psicoativas também cresce, são médicos, enfermeiros e outros tantos técnicos que fazem uso para aguentar trabalhar ou mesmo relaxar após horas exaustivas. Em agencias de publicidade, observa se a cultura de que algumas substâncias, principalmente a cocaína, ajudam a tornar a mente mais criativa também. Assustadoramente há um aumento significativo no número de profissionais que utilizam algum tipo de droga ou álcool. Normalmente, diferem daquele estereótipo comum de dependentes químicos ou alcoolistas, pois são pessoas com desempenho satisfatórios no trabalho, ou, até, acima da média e relacionamentos interpessoais minimamente estáveis. Acreditam não ter problemas de dependência por conta disso

Mas o termo “funcional” não significa que a substância traga funcionalidade para a vida desse profissional. Embora aparentemente o uso da substância esteja controlado ou adaptado ao dia a dia da pessoa, essa situação é falsa. Mesmo que aparentemente não afetados pelo uso da substância, esse comportamento é também considerado como dependência química. O uso recorrente da substância (álcool ou drogas) faz desenvolver a dependência, como em qualquer outro ser humano, o comportamento é dirigido basicamente para a busca de prazer. Sendo assim, um movimento que lhe ofereça sensação de bem estar, de prazer ou de aceitação social tende a repetição.

Esse comportamento, aliado à predisposição genética e a ação prazerosa dessas substâncias no sistema nervoso central, ligada principalmente ao centro dopaminérgico, pode ser a explicação do porquê muitas pessoas se tornem dependentes químicos. A dependência química não é um destino, mas sim uma progressão, um longo caminho de deteriorização durante a vida.

Alguns critérios são utilizados para o diagnostico da dependência química e do alcoolismo. São consideradas doenças crônicas, assim como o diabetes por exemplo, caracterizadas por comportamentos impulsivos e recorrentes de utilização de uma determinada substância para obter a sensação de bem estar e prazer. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico De Transtornos Mentais V e CID-10  são necessários apenas três desses pontos, por pelo menos um ano, para que a pessoa seja considerada dependente química.

A tolerância é o primeiro critério relacionado à dependência. Tolerância é a necessidade aumento frequente nas quantidades de substancias para se atingir o efeito desejado, ou quando se necessita uma dose menor para se atingir o efeito. Aquilo que no popular é dito como “ficar forte” ou “resistente” à droga ou ao álcool.

Em segundo, a presença de sintomas de abstinência após a interrupção do uso ou diminuição. A abstinência é a presença de desconforto físico ou emocional após a interrupção do uso ou diminuição da quantidade consumida usualmente e/ ou o consumo da mesma substância ou outra qualquer para aliviar os sintomas desagradáveis consequentes da interrupção do consumo.

A utilização da substância em maiores quantidades ou por um período maior que o desejado inicialmente, assim como o desejo de reduzir o consumo ou a quantidade consumida e dedicar boa parte do tempo na obtenção ou consumo da substancia ou ainda na recuperação de seus efeitos e a alteração de comportamento da pessoa, como atividades sociais, ocupacionais ou de lazer constituem outras quatro características possivelmente encontradas.

E por último, apesar da consciência dos possíveis problemas ocasionados pelo consumo de substancia, sendo físicos ou psicológicos, seu consumo não é interrompido.

É muito comum ouvir de pessoas envolvidas com o consumo de álcool ou drogas que elas não são dependentes, pois podem parar na hora que desejarem. E afirmam fazerem uso apenas porque querem. Porém, o desejo de parar nunca surge, e, mesmo que existam períodos sem uso, após algum tempo, o mesmo padrão de consumo é retomado.

A dependência química é reconhecida como uma doença que afeta o indivíduo no campo biopsicossocial e as estratégias de seu tratamento busca o restabelecimento físico, psicológico e a reinserção social do dependente e de seus familiares. O tratamento é bastante complexo e seu sucesso e efetividade estão intimamente ligados ao grau de motivação do indivíduo. Os sintomas da dependência não diferem em grande escala de pessoa para pessoa, mas a motivação para a mudança se apresenta de uma determinada forma para cada um, sendo assim, variável. Após uma avaliação do quadro, o tratamento mais indicado será discutido junto com o dependente, sua família e a equipe multidisciplinar.

A internação pode fazer parte do tratamento, e não uma única estratégia. Ela é utilizada com o objetivo de desintoxicar o indivíduo, e não implica na cura da dependência química.  A internação é necessária quando o dependente apresenta sintomas de abstinência muito intensos, ou quando quadros psiquiátricos são desencadeados pelo uso excessivo de drogas. Após o período de internação (quando necessária), o acompanhamento continuado é a estratégia mais indicada nos quadros de dependência química.

Dessa forma, o tratamento multidisciplinar permitirá ao indivíduo lidar com os sintomas de abstinência, que poderão estar mais amenos e o tratamento psicológico da dependência química visa mostrar ao paciente que ele possui em si próprio meios de enfrentamento de situações desconfortáveis, sem a utilização de drogas.

Como já foi dito, os aspectos psicossociais exercem um papel muito importante na manutenção da doença, pois passados os sintomas de abstinência, são eles que permanecem. Assim, o acompanhamento de um psicólogo é de extrema relevância para o tratamento, pois mais importante do que a abstenção das substâncias que causaram a dependência, é manter o indivíduo afastado das drogas, que será um desafio constante na vida do paciente.

A participação do dependente químico em grupos de apoio, como Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos, e de sua família em grupos respectivos, pode ser muito importante para determinados casos no sentido de promover uma maior motivação e de fazê-lo compreender que a dependência química não é um problema que afeta apenas a sua vida. A Clínica Equilíbrio Centro de Psicoterapia oferece atendimento em psicoterapia individual, familiar e casal, além de atendimento psiquiátrico para dependentes químicos e familiares.