A Aposentadoria será vivida por cada um a sua forma, tendo
relação direta com a história de vida, experiências e valores
delegados ao Trabalho ao longo da vida.
O trabalho é uma parte importantíssima da vida de qualquer pessoa. A rotina, as responsabilidades, as obrigações, o contato com outras pessoas e a preocupação com temas que às vezes dependem tão pouco de nossas forças dão combustível para a saúde mental – e para a própria vida, consequentemente.
O que você vai ser quando crescer? O trabalho coloca-se como expectativa social das pessoas desde o nascimento, na medida em que se espera delas que, no momento oportuno, ocupem um lugar no mundo do trabalho e contribuam para a manutenção do processo produtivo.
A identidade profissional resulta na vinculação do ser humano e uma atividade, considerados o contexto e as características dessa atividade, bem como seus reflexos nesse sistema identitário.
Ser médico, secretaria, professor, comerciante, motorista de ônibus ou bancário faz parte indissolúvel de nossa identidade social, não apenas o modo como o trabalho e executado (a atividade e seu processo de realização), mas também o que resulta desse trabalho (o produto) são importantes na construção da identidade humana, é ambos os fatores dizem respeito à questão do seu significado e da satisfação obtida por seu intermédio. Assim, pode-se considerar que a profissão representa muito mais do que um conjunto de aptidões e funções, constituindo também uma forma de vida a ser assumida, pelo sentimento de identidade e de adesão aos seus objetos e valores.
E como fica quando a Aposentadoria chega?
Culturalmente a aposentadoria se apresenta como uma fase da vida humana mais voltada para o lazer e o descanso e, além disso, costuma ser vivenciada como se fosse o final da trajetória profissional. No entanto, isso está mudando, nem sempre será essa a percepção daquele que se aposenta, tendo em vista que no plano da realidade, significativas mudanças estão em jogo, tais como: vínculos longos de amizade e companheirismo que se desfazem, alteração da rotina, ausência de companhia em casa e o próprio sentido do trabalho. Dependendo da vivência subjetiva, todo esse quadro pode ser percebido como um leque de possibilidades para experimentar novos desafios ou como uma situação ameaçadora e desestabilizadora emocionalmente, podendo levar à apatia, desmotivação e perda do sentido da vida.
Do ponto de vista emocional, essa fase pode gerar ambivalência entre uma sensação de liberdade em relação ao disciplinado mundo do trabalho e a perda do sentido existencial, ocasionado pela dúvida quanto às possibilidades concretas de encontrar gratificação em outras relações e atividades, sejam elas laborais ou não.
O conceito de crise, no âmbito da Psicologia do Desenvolvimento, é entendido como toda situação de mudança em nível biológico, psicológico ou social, que exige da pessoa ou do grupo, um esforço suplementar para manter o equilíbrio emocional. Neste sentido, toda crise caracteriza-se como uma fase que envolve perdas e/ou substituições rápidas, que necessariamente colocam em questão o equilíbrio da pessoa.
A forma como os componentes da crise são vividos, elaborados e utilizados subjetivamente, pode resultar em crescimento e desenvolvimento pessoais quando há a possibilidade de revisão de paradigmas e da construção de uma nova percepção em relação a si e ao mundo. Entretanto, a crise pode evoluir negativamente quando os recursos pessoais estão diminuídos e a intensidade do stress vivenciado ultrapassa a sua capacidade de adaptação e reação.
A partir deste entendimento, não só as etapas de vida previstas desde o nascimento, mas também outras, em que a revisão da identidade pessoal esteja em jogo, como o desemprego, o divórcio e a aposentadoria, podem ser tomadas como situações capazes de desencadear uma crise individual.
O segredo então seria seguir trabalhando? Pode-se dizer que sim, mas com a condição de revisitar e resignificar a palavra “trabalho”.
Cabe avaliar a distinção entre emprego, trabalho e ocupação:
– No emprego está intrínseca a ideia de vínculo legalizado de prestação de serviços;
– Trabalho consiste em uma atividade que também demanda tempo e dedicação, mesmo sem a formalidade do emprego;
– Ocupação define-se por algo que ocupa, podendo ser trabalho, emprego, voluntariado ou atividades pontuais que não demandem tanto tempo quanto os dois anteriores.
A psicoterapia se torna um ponto de apoio para que essa transição se dê de forma tranquila, com menor ansiedade e desgaste emocional. Seguir com um planejamento ou realinha-lo, definir tempo para lazer, família, saúde e também para algum trabalho, preferencialmente, “escolhido/ prazeroso” são aspectos que você pode discutir com um psicólogo.