Durante muito tempo os adolescentes foram considerados “não tratáveis”. Hoje sabemos que isto ocorreu devido à ausência de uma abordagem técnica mais apropriada às peculiaridades da comunicação nesta faixa etária. A psicoterapia de adolescentes, assim como a de crianças, só se tornou viável pela introdução de modificações na técnica originalmente empregada com pacientes adultos, a fim de adaptá-la às características evolutivas deste grupo etário.
Foi a partir da constatação de que o jogo era um importante veículo de comunicação das fantasias inconscientes da criança, que surgiu a técnica lúdica, possibilitando a psicoterapia infantil. Já nos adolescentes o equivalente do jogo pode ser compreendido como sendo o ato, a gíria e o silêncio. Portanto, a psicoterapia na adolescência deve levar em conta, além da comunicação verbal, os aspectos não verbais e para verbais, por ser esta a forma peculiar utilizada por estes pacientes para nomear sua realidade interna e externa. Tarefa um tanto complexa, pois o terapeuta precisa levar em conta e entender o significado dos silêncios, da troca de olhares, da modulação do tom de voz, ou seja, daquilo que não é falado. Aliás, entender todas as nuances e modulações para verbais que os adolescentes utilizam para comunicar seus sentimentos é a maior dificuldade encontrada inicialmente pelo psicoterapeuta de adolescentes. Cabe ressaltar ainda a limitada capacidade de expressão verbal desses pacientes, tornando muito difícil a eles discriminar e denominar conceitos, afetos, sentimentos, pensamentos e emoções, pois é como se lhes faltasse o vocábulo capaz de representar o que estão vivenciando, sentindo ou pensando.
Outra dificuldade que configura a complexidade que é atender esses pacientes em psicoterapia é que dificilmente o adolescente busca espontaneamente ajuda para seus sofrimentos emocionais, sendo geralmente os pais que os fazem. Esta falta de motivação para superar as suas dificuldades é de certa forma justificada, pois com as mudanças incontroláveis de seu corpo na puberdade, o adolescente ainda não tem bem claro o que está se passando com ele, mas uma coisa é certa: há necessidade de uma nova acomodação à realidade. Portanto, na psicoterapia de adolescentes a relação quase nunca é bipessoal, pois manifesta ou latentemente os pais também estão incluídos. A presença dos pais explica porque a maioria dos adolescentes mostra-se tão reticente, desconfiado e impaciente quando chega ao tratamento.
Outra forma de comunicação proposta por estes pacientes na relação terapêutica refere-se ao silêncio. Existem duas possibilidades de conduta nos adolescentes que iniciam tratamento: o adolescente silencia ou se relaciona mediante um relato descritivo que se refere às características da relação com seus pais, seus amigos, etc. Portanto, o silêncio não significa necessariamente resistência ao tratamento e nem quer dizer que este está destinado ao fracasso. Recomenda-se, como uma atitude técnica, respeitar esta conduta silenciosa. Algumas vezes é necessário esperar muitas sessões até que o adolescente possa se comunicar, aliás, o seu silêncio já comunica algo importante: a sua necessidade de se sentir respeitado para poder falar sobre si mesmo.
O respeito para com o paciente inclui o respeito pelo seu silêncio e pela sua fala. E, embora o conhecimento teórico seja importante, ajudando a saber o que se passa com o paciente, não podemos deixar de valorizar a forma como nos relacionamos com ele. Pois muitas vezes é a nossa atitude receptiva e empática, as palavras que dizemos, a entonação que usamos e o uso que fazemos de nossas intervenções, buscando o momento certo para comunicá-las ao paciente, que realmente possibilitam que nos aproximemos dele, permitindo o desenvolvimento do tão desejado processo terapêutico.