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A ARMADURA EM QUE VIVEMOS.

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O que queremos sentir? É natural que busquemos aquilo que nos agrada e evitemos os desconfortos. Mas isso é totalmente possível? Há quem diga que sim, que venda a ideia de uma vida onde só há espaço para a felicidade e que o desconforto deve ser combatido a todo custo. É claro, sofrer não é bom, devemos sim buscar aquilo que nos alegra. Mas sentir não é opcional, sentir é humano. Bem vindo ao clube.

 

Não escolhemos o que sentimos. Emoções são reações naturais de nosso organismo. São respostas ao que percebemos, seja em nosso mundo externo, ou interno. Se percebemos algo como perigoso é natural e inevitável que sintamos medo. Podemos até questionar os motivos de estarmos sentindo o que sentimos, mas o sentimento já está aí, ele já é real.

 

Entretanto não é porque não conseguimos controlar ou negar nossas emoções, que sejamos reféns delas. Também, de forma natural, consciente ou inconscientemente passamos a entender que certas pessoas, situações ou lugares nos despertam determinadas sensações. Diante disso, estabelecemos formas de buscar ou evitar determinadas circunstâncias ou comportamentos que despertem determinadas emoções. Porém, evitar sentir algo, muitas vezes acaba por reafirmar a ideia de sermos incapazes de viver tal sensação.

 

Uma antiga fábula, conta sobre um cavaleiro. Nem tão belo e nem tão forte. Era um homem comum, com todas as fragilidades que nos é natural. Mas quando vestia sua armadura, sentia-se imbatível. Todas suas fragilidades eram protegidas. Em sua vestimenta, o cavaleiro era percebido como um homem forte e poderoso. Batalha após batalha, o cavaleiro passou a permanecer cada vez mais tempo em sua armadura, protegido e pronto para o desafio que viesse.

 

Porém, sua armadura, não somente o protegia. Mas tornava-o menos sensível ao que quer que fosse. Menos sensível aos ataques que poderia sofrer em batalha, mas também, menos sensível ao toque de sua amada esposa, por exemplo. Após um tempo, o cavaleiro já nem mais tirava sua armadura, fosse no campo de batalha, ou em seu castelo com sua família. Certa vez, seu filho perguntou sobre seu rosto, já que não mais recordava a face de seu pai, sem seu elmo brilhante e metálico. O cavaleiro então percebe, naquele momento, não ser capaz de despir sua armadura. O traje protetivo havia se fundido ao cavaleiro e nem mesmo ele se recordava de como era sem sua armadura.

 

Na fábula, assim como na vida, buscamos armaduras que nos protejam. Que diminua, e se possível elimine, a chance de sofrermos. Porém, sofrimento é um sentimento, assim como alegria, amor, medo ou raiva. Nossos sentimentos não estão organizados dentro de nós como um antigo arquivo, onde em cada gaveta está uma emoção. Está tudo junto e misturado. É comum que o desejo e o medo representam dois lados de uma mesma coisa. Aquilo que mais desejamos também é o que mais temos medo de perder ou não ter.

 

Muitas vezes, o que precisamos é fazer como o cavaleiro. Em seu esforço para sair de sua armadura, rígida e enferrujada, precisou trilhar o “caminho da verdade”. Esse caminho nos leva a perceber e aceitar a nós mesmos. Aceitar que não precisamos de armaduras. Reconhecer que não há problema em ser vulnerável, que sentir medo é tão importante quanto sentir alegria. É apenas vivenciando as emoções que aprendemos a lidar e conviver com elas de forma verdadeira.